Machado de Assis
O que vamos trabalhar?
- Quem era Machado de Assis
- Um Apólogo
- Ninguém é melhor do que ninguém
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- Atividades de colorir, recortar e colar
- Teatro
Quem é Machado de Assis?
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu dia 21 de junho de 1839, na cidade do Rio
de Janeiro. O garoto pobre, filho de um operário mestiço chamado
Francisco José de Assis e de Maria Leopoldina Machado de Assis, marcou a
história da literatura brasileira. Ao contrário do que se imagina, a
trajetória de Machado de Assis não o conduziu naturalmente para o mundo
das letras. Ainda na infância o jovem “Machadinho”, como era
carinhosamente chamado, perdeu sua mãe.
Durante sua infância e adolescência foi criado por Maria Inês, sua
madrasta. A falta de recursos financeiros o obrigou a dividir seu tempo
entre os estudos e o trabalho de vendedor de doces. Ainda sobre
condições não muito favoráveis, Machado de Assis demonstrava possuir
grande facilidade de aprendizado. Segundo alguns relatos – no tempo em
que morou em São Cristóvão – aprendeu a falar francês com a dona de uma
padaria da região.
Já aos 16 anos conseguiu publicar sua primeira obra literária na revista
“Marmota Fluminense”, onde registrou as linhas do poema “Ela”. No ano
seguinte, Machado conseguiu um cargo como tipógrafo na Imprensa Nacional
e dividiu seu tempo com a criação de novos textos. Durante sua estadia
na Imprensa Nacional, o escritor iniciante teve a oportunidade de
conhecer Manuel Antônio de Almeida, diretor da instituição e autor do
romance “Memórias de um sargento de milícias”.
O contato com o diretor lhe concedeu novas oportunidades no campo da
literatura e o alcance de outros postos de trabalho. Aos 19 anos de
idade, Machado de Assis se tornou colaborador e revisor do Jornal
Marmota Fluminense. Nesse período conheceu outros expressivos escritores
de seu tempo, como José de Alencar, Gonçalves Dias, Manoel de Macedo e
Manoel Antônio de Almeida. Nesse tempo ainda se dedicou à escrita de
obras românticas e ao trabalho jornalístico.
Entre 1859 e 1860, conseguiu emprego como colaborador e revisor de
diferentes meios de comunicação da época. Entre outros jornais e
revistas, Machado de Assis escreveu para o Correio Mercantil, Diário do
Rio de Janeiro, O Espelho, A Semana Ilustrada e Jornal das Famílias. A
primeira obra impressa de Machado de Assis foi o livro “Queda que as
mulheres têm para os tolos”, onde aparece como tradutor. Na década de
1860, consolidou sua carreira profissional como revisor e editor.
Na mesma época conheceu Faustino Xavier de Novais, diretor da revista “O
futuro” e irmão de sua futura esposa. Seu casamento com Carolina foi
bem sucedido e marcado pela afinidade que sua companheira também possuía
com o mundo da literatura. Em 1867, Machado de Assis publicou seu
primeiro livro de poesias, intitulado “Crisálidas”. O sucesso da
carreira literária teve seqüência com a publicação do romance
“Ressurreição”, de 1872.
A vida de intelectual foi amparada por uma promissora carreira
constituída no funcionalismo público. A conquista do cargo de primeiro
oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e
Obras Públicas ofereceu uma razoável condição de vida. No ano de 1874,
produziu o romance “A mão e a luva” em uma seqüência de publicações
realizadas dentro do jornal O Globo, na época, mantido por Quintino
Bocaiúva.
O prestígio artístico de Machado de Assis o tornou um autor de grande
popularidade. Durante as comemorações do tricentenário de Luís de
Camões, produziu uma peça de teatro encenada no Imperial Teatro Dom
Pedro II. Entre 1881 e 1897, o jornal Gazeta de Notícias abrigou grande
parte daquelas que seriam consideradas suas melhores crônicas.
O ano de 1881 foi marcante para a carreira artística e burocrática de
Machado de Assis. Naquele mesmo ano, Machado tornou-se oficial de
gabinete do ministério em que trabalhava e publicou o romance “Memórias
Póstumas de Brás Cubas”, considerado de suma importância para o realismo
na literatura brasileira.
A ampla rede de relações e amizades de Machado de Assis lhe abriu portas
para um outro importante passo na história da literatura brasileira. Em
reuniões com seu amigo, e também escritor, José Veríssimo confabulou as
primeiras medidas para a criação da Academia Brasileira de Letras.
Participando ativamente das reuniões de escritores que apoiavam tal
projeto, Machado de Assis tornou-se o primeiro presidente da
instituição. Com a sua morte, em 1908, foi sucedido por Rui Barbosa.
A trajetória de Machado de Assis é alvo de interesse dos apreciadores da
literatura e de vários pesquisadores. A sua obra conta com um leque
temático e estilístico bastante variado, dificultando bastante o
enquadramento de seu legado em um único gênero. O impacto da sua obra
chegou a figurá-lo entre os principais nomes da literatura
internacional.
www.brasilescola.com/literatura/biografia-machado-assis.htm
1 - Assista o Vídeo: Biografia de Machado de Assis
2 - Um Apólogo de Machado de Assis
3 - A agulha e a linha
2 - Um Apólogo de Machado de Assis
3 - A agulha e a linha
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável?
Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça.
Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua
vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose,
senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e
muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição
aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem
atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só
mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo,
junto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto
se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar
atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou
a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano
adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos
de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta
costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles,
furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela,
silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A
agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo
silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no
pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda
nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se,
levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto
compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou
dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do
vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto
você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos,
diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor
experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida,
enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para
ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 9 - Contos", Editora Ática - São Paulo, 1984, pág. 59.
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